sábado, 27 de maio de 2017

Classificação da capacidade produtiva

A classificação da capacidade produtiva é um dos elementos do manejo florestal. Segundo Dias et al. (2005 b), a avaliação do potencial de produção de um local é utilizada como base para a predição do crescimento de povoamentos manejados, especialmente florestas plantadas, para que se faça o planejamento do investimento e da produção. No contexto de manejo florestal, qualidade de sítio pode ser definida como “o potencial de produção de madeira de um local para uma espécie particular ou um tipo de floresta” (CLUTTER et al. 1983).

Para muitas espécies, áreas de boa qualidade de site são também áreas onde as taxas de crescimento em altura são altas. Em outras palavras, para estas espécies o potencial de produção em volume e o crescimento em altura são positivamente correlacionados (CLUTTER et al. 1983). Por este motivo, uma característica do povoamento que é comumente usada como representativa da capacidade produtiva é a altura dominante média. A capacidade produtiva pode ser classificada de maneira qualitativa (classes produtivas superior, média e inferior, por exemplo) ou de maneira quantitativa.
De acordo com Clutter et al. (1983), a utilidade prática da correlação entre volume potencial e crescimento em altura de troncos deriva do fato que o padrão de desenvolvimento em altura das árvores mais largas em um povoamento equiâneo é pouco afetado pela densidade deste povoamento, ao contrário do desenvolvimento em diâmetro. Para espécies em que o crescimento em altura é significantemente influenciado pela variação na densidade, a estimação da qualidade de site a partir de dados de altura do povoamento irá gerar resultados pobres ao menos que procedimentos adequados possam ser idealizados para ajustar a relação para refletir o efeito da densidade. Entretanto, para muitas espécies florestais importantes, o crescimento em altura é pouco afetado pela variação na densidade, e procedimentos de estimação de qualidade de site baseados em dados de altura de povoamentos florestais são as técnicas mais comumente usadas para avaliar a produtividade de locais.
Outro fator que justifica a escolha da altura como uma medida da capacidade produtiva é sua maior flexibilidade à certas intervenções no povoamento quando comparada com o diâmetro. Segundo Clutter et al. (1983), experiências empíricas de experimentos de desbaste indicam que para muitas espécies comercialmente importantes o crescimento em altura não é grandemente afetado pela manipulação da densidade do povoamento. A altura média do povoamento pode ser modificada pelo desbaste, dependendo do método de desbaste, mas dentro de grandes limites de densidade de povoamento, o crescimento em altura parece ser não afetado, especialmente quando a comparação é restrita a árvores dominantes e codominantes.
A maneira mais adequada de expressar o índice de local é relacionar a altura dominante com a idade das árvores. Para isso, é necessário definir um modelo que represente a relação altura com a idade, bem como definir o comportamento da família de curvas geradas de um modelo (DIAS et al. 2005b). 
Existem diversas formas de quantitativamente classificar a capacidade produtiva, sendo que o método da curva-guia é o mais utilizado. Neste método, um modelo da altura dominante em função da idade é ajustado. Este modelo então é usado para calcular o valor de altura dominante em uma idade índice, que é determinada pelo manejador. O site (índice de local), variável que representa a capacidade produtiva, é o valor da altura dominante nesta idade índice. Conforme Görgens (2007), o índice de local já aborda a variação da altura dominante, dispensando a utilização de modelos para predizê-la. 
A maioria dos métodos baseados em altura para a avaliação da qualidade de local envolvem o uso de curvas índices de site. Qualquer conjunto de curvas de índice de local é simplesmente uma família de padrões de desenvolvimento em altura com símbolos qualitativos ou números associados às curvas para propósitos de referência. O método mais comum de referenciamento usa a altura alcançada a uma idade de referência especificada. Esta idade de referência, a idade índice ou idade base, é comumente selecionada para estar próxima a idade de rotação. Todavia, para muitas famílias de curvas de desenvolvimento em altura, faz pouca diferença prática qual idade é selecionada como a idade índice (CLUTTER et al., 1983). 
Segundo Clutter et al. (1983), parcelas temporárias podem gerar equações de índice de local menos precisas, mas o uso de tais dados envolve a suposição de que todo o intervalo de índices de local está bem representado em todas as classes de idade dentro da amostra. Isto geralmente não é observado para povoamentos equiâneos. Se esta suposição for falsa, a equação de predição resultante poderá ser, geralmente, seriamente enviesada. Parcelas permanentes provêm os melhores dados para ajuste de equações de índice de local. Dados de parcelas permanentes são mais caros, e estes dados não se tornam disponíveis até um certo número de anos após as parcelas serem inicialmente estabelecidas (Clutter et al., 1983). 
Em estudo realizado por Dias et al. (2005b), que teve por objetivo comparar diferentes métodos de classificação da capacidade produtiva, o método da curva-guia foi considerado o mais eficiente para construção de curvas de índice de local para povoamentos de eucalipto desbastados. Para Castro et al. (2016), a escolha de um método de classificação da capacidade produtiva em detrimento do outro se deu pelo menor erro-padrão da média relativo encontrado e pela facilidade de cálculo e de construção das curvas de índices de local. O método escolhido por este autor foi, então, o método da curva-guia.
A classificação da capacidade produtiva geralmente requer a estratificação do povoamento florestal. Uma equação de site é gerada por estrato, representando a variação da altura dominante para aquela condição em função do tempo.
O uso de índices de local como representantes da capacidade produtiva tem como vantagem gerar uma representação numérica do potencial produtivo das áreas, ao invés de uma representação qualitativa. Esta representação numérica é interessante porque permite sua inclusão de maneira direta em modelos de regressão lineares ou não-lineares.
A capacidade produtiva de um local influencia na precisão de modelos de crescimento e de produção. Em estudo realizado por Soares et al. (1998), quanto menor foi a capacidade produtiva, maior foi a amplitude do intervalo de previsão para os seus modelos ajustados, e com o aumento da idade, este intervalo de previsão diminuiu. Uma explicação para este fenômeno é que em condições extremas (neste caso menores capacidades produtivas e menores idades), a variabilidade é maior, portanto o intervalo de previsão também é maior.

Referências 


CAMARGOS, J. L. Modelagem do crescimento e produção florestal com número variável de parcelas mensuradas. Diamantina: UFVJM, 2017. 107 p. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Ciência Florestal, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina-MG, 2017.


CASTRO, R. V. O. et al. Modelagem do crescimento e da produção de povoamentos de Eucalyptus em nível de distribuição diamétrica utilizando índice de local. Revista Árvore, Viçosa-MG, v. 40, n. 1, p. 107-116, 2016.

CLUTTER, J. L. et al. Timber management: a quantitative approach. Jon Wiley & Sons, Inc., 1983, 333 p.

DIAS, A. N. et al. Avaliação de métodos de ajuste de curvas de índice de local em povoamentos de eucalipto desbastados. Revista Árvore, Viçosa-MG, v. 29, n. 5, p. 741-747, 2005b.

GÖRGENS, E. B. et al. Tendência de crescimento de povoamento de eucalipto após aplicação de desbaste. Revista Árvore, Viçosa-MG, v. 31, n. 5, p. 879-885, 2007.

SOARES, C. P. B. et al. Intervalo de previsão para um modelo de crescimento e produção composto por equações simultâneas. Revista Árvore, Viçosa-MG, v. 22, n. 2, p. 285-192, 1998.