A classificação da capacidade produtiva é um dos
elementos do manejo florestal. Segundo Dias et al. (2005 b), a avaliação do
potencial de produção de um local é utilizada como base para a predição do
crescimento de povoamentos manejados, especialmente florestas plantadas, para
que se faça o planejamento do investimento e da produção. No contexto de manejo
florestal, qualidade de sítio pode ser definida como “o potencial de produção
de madeira de um local para uma espécie particular ou um tipo de floresta” (CLUTTER
et al. 1983).
Para muitas espécies, áreas de boa qualidade de
site são também áreas onde as taxas de crescimento em altura são altas. Em
outras palavras, para estas espécies o potencial de produção em volume e o
crescimento em altura são positivamente correlacionados (CLUTTER et al. 1983).
Por este motivo, uma característica do povoamento que é comumente usada como
representativa da capacidade produtiva é a altura dominante média. A capacidade
produtiva pode ser classificada de maneira qualitativa (classes produtivas
superior, média e inferior, por exemplo) ou de maneira quantitativa.
De acordo com Clutter et al. (1983), a utilidade
prática da correlação entre volume potencial e crescimento em altura de troncos
deriva do fato que o padrão de desenvolvimento em altura das árvores mais
largas em um povoamento equiâneo é pouco afetado pela densidade deste
povoamento, ao contrário do desenvolvimento em diâmetro. Para espécies em que o
crescimento em altura é significantemente influenciado pela variação na
densidade, a estimação da qualidade de site a partir de dados de altura do
povoamento irá gerar resultados pobres ao menos que procedimentos adequados
possam ser idealizados para ajustar a relação para refletir o efeito da
densidade. Entretanto, para muitas espécies florestais importantes, o
crescimento em altura é pouco afetado pela variação na densidade, e
procedimentos de estimação de qualidade de site baseados em dados de altura de
povoamentos florestais são as técnicas mais comumente usadas para avaliar a
produtividade de locais.
Outro fator que justifica a escolha da altura como
uma medida da capacidade produtiva é sua maior flexibilidade à certas
intervenções no povoamento quando comparada com o diâmetro. Segundo Clutter et
al. (1983), experiências empíricas de experimentos de desbaste indicam que para
muitas espécies comercialmente importantes o crescimento em altura não é
grandemente afetado pela manipulação da densidade do povoamento. A altura média
do povoamento pode ser modificada pelo desbaste, dependendo do método de
desbaste, mas dentro de grandes limites de densidade de povoamento, o
crescimento em altura parece ser não afetado, especialmente quando a comparação
é restrita a árvores dominantes e codominantes.
A maneira mais adequada de expressar o índice de
local é relacionar a altura dominante com a idade das árvores. Para isso, é
necessário definir um modelo que represente a relação altura com a idade, bem
como definir o comportamento da família de curvas geradas de um modelo (DIAS et
al. 2005b).
Existem diversas formas de quantitativamente
classificar a capacidade produtiva, sendo que o método da curva-guia é o mais
utilizado. Neste método, um modelo da altura dominante em função da idade é
ajustado. Este modelo então é usado para calcular o valor de altura dominante
em uma idade índice, que é determinada pelo manejador. O site (índice de
local), variável que representa a capacidade produtiva, é o valor da altura
dominante nesta idade índice. Conforme Görgens (2007), o índice de local já aborda
a variação da altura dominante, dispensando a utilização de modelos para
predizê-la.
A maioria dos métodos baseados em altura para a
avaliação da qualidade de local envolvem o uso de curvas índices de site.
Qualquer conjunto de curvas de índice de local é simplesmente uma família de
padrões de desenvolvimento em altura com símbolos qualitativos ou números
associados às curvas para propósitos de referência. O método mais comum de
referenciamento usa a altura alcançada a uma idade de referência especificada.
Esta idade de referência, a idade índice ou idade base, é comumente selecionada
para estar próxima a idade de rotação. Todavia, para muitas famílias de curvas
de desenvolvimento em altura, faz pouca diferença prática qual idade é
selecionada como a idade índice (CLUTTER et al., 1983).
Segundo Clutter et al. (1983), parcelas temporárias
podem gerar equações de índice de local menos precisas, mas o uso de tais dados
envolve a suposição de que todo o intervalo de índices de local está bem
representado em todas as classes de idade dentro da amostra. Isto geralmente
não é observado para povoamentos equiâneos. Se esta suposição for falsa, a
equação de predição resultante poderá ser, geralmente, seriamente enviesada.
Parcelas permanentes provêm os melhores dados para ajuste de equações de índice
de local. Dados de parcelas permanentes são mais caros, e estes dados não se
tornam disponíveis até um certo número de anos após as parcelas serem
inicialmente estabelecidas (Clutter et al., 1983).
Em estudo realizado por Dias et al. (2005b), que
teve por objetivo comparar diferentes métodos de classificação da capacidade
produtiva, o método da curva-guia foi considerado o mais eficiente para
construção de curvas de índice de local para povoamentos de eucalipto desbastados.
Para Castro et al. (2016), a escolha de um método de classificação da
capacidade produtiva em detrimento do outro se deu pelo menor erro-padrão da
média relativo encontrado e pela facilidade de cálculo e de construção das
curvas de índices de local. O método escolhido por este autor foi, então, o
método da curva-guia.
A classificação da capacidade produtiva geralmente
requer a estratificação do povoamento florestal. Uma equação de site é gerada
por estrato, representando a variação da altura dominante para aquela condição
em função do tempo.
O uso de índices de local como representantes da
capacidade produtiva tem como vantagem gerar uma representação numérica do
potencial produtivo das áreas, ao invés de uma representação qualitativa. Esta
representação numérica é interessante porque permite sua inclusão de maneira
direta em modelos de regressão lineares ou não-lineares.
A capacidade produtiva de um local influencia na
precisão de modelos de crescimento e de produção. Em estudo realizado por
Soares et al. (1998), quanto menor foi a capacidade produtiva, maior foi a
amplitude do intervalo de previsão para os seus modelos ajustados, e com o
aumento da idade, este intervalo de previsão diminuiu. Uma explicação para este
fenômeno é que em condições extremas (neste caso menores capacidades produtivas
e menores idades), a variabilidade é maior, portanto o intervalo de previsão
também é maior.
Referências
CAMARGOS, J. L. Modelagem do crescimento e produção florestal com número variável de parcelas mensuradas. Diamantina: UFVJM, 2017. 107 p. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Ciência Florestal, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina-MG, 2017.
CASTRO, R. V. O. et al. Modelagem do crescimento e
da produção de povoamentos de Eucalyptus
em nível de distribuição diamétrica utilizando índice de local. Revista Árvore, Viçosa-MG, v. 40, n. 1,
p. 107-116, 2016.
CLUTTER,
J. L. et al. Timber management: a
quantitative approach. Jon Wiley & Sons, Inc., 1983, 333 p.
DIAS, A. N. et al. Avaliação de métodos de ajuste
de curvas de índice de local em povoamentos de eucalipto desbastados. Revista Árvore, Viçosa-MG, v. 29, n. 5,
p. 741-747, 2005b.
GÖRGENS, E. B. et al. Tendência de crescimento de
povoamento de eucalipto após aplicação de desbaste. Revista Árvore, Viçosa-MG, v. 31, n. 5, p. 879-885, 2007.
SOARES, C. P. B. et al. Intervalo de previsão para
um modelo de crescimento e produção composto por equações simultâneas. Revista Árvore, Viçosa-MG, v. 22, n. 2,
p. 285-192, 1998.